21 de jun. de 2008

VITRÔ OU VITRAL ?

O VITRAL

Nem sei onde li, ouvi ou imaginei, que um homem, antes de morrer tem que escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho e construir uma casa. Sei que há mais versões e não discuto.
Isso acertado, vamos aos fatos.

Livro:Quando trabalhava na California entre 1950 e 1954, ensinando português numa escola de lá, escrevi um, de áudio-visual aplicado, e participei da publicação de outros livros de ensino.

Árvore: Na frente de onde moro hoje há dois "fícus" que plantei ainda em pequenas mudas e que venceram, conseguiram ser esquecidas pela mão-que-mata-o-bicho-e-mata-o-arbusto pelo prazer de matar. - "Mata a largatixa que ela dá cobreiro" diz a nem sempre inteligente cultura popular entre meninos.

Um desses fícus já tem galhos onde as crianças daqui da ladeira se balançam.
E agora, em Junho de 2008, vejo que a árvore está sendo cortada.

No pátio de minha casa há um pé de jaboticaba, pequeno, ainda em tempo de virar "bonsai", que mandei vir de longe. Terá liberdade para crescer o quanto quiser.

Isso faz, como diz o gringo amigo - "two down and two to go." - ficam faltando 'filho' e 'casa'.

Agora vejamos, graças à doce amiga, irretocável companheira e ex-esposa Lourdes, com quem casei em Paris, ao nos dar duas filhas, me completou o 3o. item.

Agora a casa. Esta onde moro é a primeira que construo partindo do nada. Penei por dois anos entre os vários projetos iniciais e o "habite-se" para descobrir agora que a casa não é minha. Eu é que sou dela.

Aliás, depois de uma certa idade carregamos literalmente nas costas tudo o que antes usávamos e do que éramos orgulhosos proprietários.Com a idade passamos de usuários para simples encarregados.

A casa, ainda em projeto, já tinha objetos e outras belezas guardadas no depósito da casa abtiga. Lampiões antigos da Light, pranchas de belissimas madeiras, quadros de colegas, e um vitreaux maravilhoso que, por conta da idade (uns 100 anos?), e de ter sido tirado de uma demolição, precisava de remendos.

À custa de muito perguntar encontrei um vitralista na Tijuca que, com paciência de um anjo, o restaurou.

Colocado na casa entre o hall da escada e uma sala, toda vez que o vejo penso no amigo de muitos anos que me deu esse "presente".

Ele é, para mim, ajudado por não muito mais que uma meia-dúzia de outros amigos, o representante de uma minoria entre os humanos.

Com classe e generosidade, fazem o bem com tanta discreção que a mão esquerda não sabe o que fez a mão direita.

E ainda confirma o dito popular: "Quem tem padrinho não morre pagão".

Olha o vitral aí:
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SILVA COSTA - Pintor, nascido em São Paulo, Brasil, em 1927. Morou e estudou no Rio de Janeiro até 1949 quando viajou para os EEUU. Estudou desenho e pintura no Institute of Mechanics and Tradesmen em Nova Iorque, mudando-se em 1950 para a California, Carmel-by-The-Sea onde trabalhou e estudou desenho e pintura. Trabalhou na Army Language School na vizinha cidade de Monterey e estudou técnicas do retrato com Warshowski. Em 1955 viajou para a Europa onde estudou, na Academie de La Grande Chaumiere, em Paris por alguns meses.