Zé Tomás, orfão de mãe, cresceu num dos engenhos de seu pai.
Enquanto crescia era Nenén, que foi cria da casa e agora mulher feita, quem cuidava da casa e dos meninos.
Uns cincoenta anos depois Zé Tomás me encontrou na rua e perguntou se eu pintaria um quadro do seu engenho de menino.
Durão, jamais admitiria saudade... mas tinha uma foto em preto-e-branco que eu poderia usar.
Com a foto, fiz um esboço inicial numa chapa onde eu pintaria o quadro. Ao vê-lo, começou a dizer que 'aqui tinha montes de lenha' e apontando adiante 'aqui ficavam os bois que traziam a cana' e 'atrás ficava um pomar e a casa maior era aqui'.
Preocupado com futuras exigências tipo: - aqui você pode botar umas vacas e aqui um carro de boi', fui protelando o trabalho até que, uns dois anos depois ele me deu um ultimato: - "Se você não vai pintar o quadro, me devolve a foto pois tenho um amigo no Recife, pintor, que fará."
Em menos de uma semana esse quadro aí ficou pronto e na parede do Zé Tomás.
Ele agora conta que, da rede que tem na varanda de seu apartamento no Morro da Viúva, ele vê o quadro, ouve o resfôlego da máquina, sente o cheiro do mel e ouve o carro-de-boi cantando.
Chega até mesmo a ouvir a Nenén chamando para o almoço.
( A bem da verdade, o engenho era real, Zé Tomas cresceu lá, foi criado por sua irmã e cuidado pela Neném, o quadro foi pintado conforme dito acima, mas o resto é invenção.)
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