30 de jun. de 2008
SÃO JORGE E O DRAGÃO
SÃO JORGE E O DRAGÃO
A antiga estrada, passando por São Conrado, era o único acesso ao bairro de Jacarepaguá de quem vinha da zona sul.
Passava pelo Joá e, 'meandrando', descia a serra e ia pelo Itanhangá, passava junto de lagoas limpas, e lá se chegava.
Assaltantes, naqueles tempos, só eram vistos em filmes de cow-boy.
Nessa estrada comprava-se frutas da estação, flores e mudas de planta, e santos ali esculpidos à beira da estrada.
O escultor chamava-se Baiano. Ele e a mulher, usando de madeiras ali encontradas, esculpiam Nossas Senhoras variadas, São Franciscos com inventados passarinhos e Santo Antônios com o menino, maior ou menor, dependendo da largura do toco sendo esculpido.
Um dia, de passagem, vi esse São Jorge.
A escultura do santo o apresenta com um antigo capacete de piloto, um malandro e fino bigode e uma lança. Também o mostra montado num cavalo que, para caber na peça, é mínimo.
E tudo isso atropelando um dragão verde que, ferido e desajeitado, ainda irá morrer pela lança de São Jorge.
Outras esculturas do Baiano enfeitam a casa.
Mas o valoroso São Jorge é quem a guarda e me assegura que já não há mais razão para se ter medo de dragões.
rio - 1/8/2003
24 de jun. de 2008
ORAÇÃO
ORAÇÃO (autor desconhecido)
Senhor,
Sabes melhor do que eu que estou envelhcendo e que
mais dia menos dia, farei parte dos velhos.
Guarda-me daquela mania fatal de acreditar que é meu dever
dizer algo a respeito de tudo e em qualquer ocasião.
Livra-me do desejo obsessivo de pôr ordem no négocio dos outros.
Torna-me refletido mas não ranzinsa, serviçal mas não autoritário.
Acho uma pena não utilisar todo o imenso saber que acumulei por
estes longos anos, mas sabes, Senhor, faço guestão de conservar
alguns amigos.
Segura-me quando eu começar a desfiar detalhes que não acabam
mais, dá-me asas para ir direto ao fim.
Sela meus lábios acerca de minhas mazelas e doenças, embora essas
aumentem sem cessar, e, com o passar dos anos me dê certo prazer
enumerá-las.
Não me atrevo a pedir-te que eu chegue até a gostar de ouvir de
outros quando começam a ladainha dos próprios sofrimentos mas
ajuda-me a suportar com paciência.
Não me atrevo a reclamar uma memória melhor, dá-me porém uma
crescente humildade e menos suscetibilidade quando a minha memória
esbarrar na dos outros.
Ensina_me a gloriosa liçao de que posso até estar enganado.
Toma conta de mim.
Não é que eu tenha tanta vontade de virar santo (com certos santos é
tão difícil conviver) mas ser velho, além de velho, amargo... é com certeza
uma das supremas invenções do diabo.
Faze-me capaz de ver algo de bom onde menos se espera e de
reconhecer talentos em gente na qual estes não se percebem.
E dá-me a graça de proclamá-lo.
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Transcrito de O Globo - em Maio de 1987
AMOR FILIAL
núpcias quando a noivadescobriu que o marido ainda não perdera
surpreendeu-o mamando ternamente no seio materno.
Pela trancrição.
sc
23 de jun. de 2008
CASA NA TAQUARA
Em 1973 comprei uma casa na Taquara, Jacarepaguá, no osso.
Tinha laje, paredes no tijolo, sem banheiros ou outras amenidades e resolvi terminá-la à meu modo. Situada numa pequena colina, dali se avistavam as serras que separam a zona sul do Rio da Barra da Tijuca.
A vista era a da parte dos fundos da casa. Mudar tudo, o que era "serviço" iria para a frente da casa e o "social" para trás. Foi um pulo.
A casa ficou pronta, habitada, usada, visitada, e, com um atelier construido no quintal, ao lado de uma minúscula piscina, alguns abacateiros e um coqueiro-anão, passou a ter vida e pulsação.
Mas, lembrando de um velho dito português - "Quem longe vai casar, ou se engana ou vai enganar" - nunca me acertei com o bairro.
Mas o que interessa é o seguinte: Já mudado para essa casa, pude notar que no quintal havia esse simpático porém pão-duro coqueiro-anão. Quase não dava cocos.
Comecei a perguntar, aos que imaginei entendidos em coqueiros, como fazê-lo mais produtivo. O primeiro perguntado me disse: - Coloque uns quilos de sal grosso nas raizes que isso funciona.
Retornando de Barra de São João onde tinhamos uma pequena casa de praia, parei na estrada em Cabo Frio perto de uma salina e apanhei o sal.
Já em casa, coloquei nas raizes como instruido.
Aconteceu que um segundo conhecedor de coqueiros apareceu e me informou que o sal era colocado nas folhas e não nas raizes. Apanhei mais sal e coloquei nos galhos onde a água da chuva acumula.
Passados uns dias me surge um terceiro técnico em coqueiros. - "Nada disso, ele revelou, o negócio é colocar "pó-de-broca" entre as folhas (terrível veneno que quase me matou ao aspirar um pouco do seu pó) o que fiz.
Meses depois o coqueirinho fez maravilhas. Seus cachos de coco eram a admiração da vizinhança.
-"Qual é o segredo", me perguntavam e eu respondia: - "Coloque sal nas raizes, mais sal nas folhas e, com muito cuidado, ponha pó-de-broca nos galhos.Depois soube, pelo técnico de número 4, que bastava matar as lagartas que comiam os brotos nascidos junto ao tronco.
Só que ainda não sei se foi o sal, o veneno ou a simpatia de todos que me ajudaram.
E me consola saber que o homem foi à lua mas não consegue curar um resfriado.
21 de jun. de 2008
O GATO-DE-BOTAS
O uso do computador, já lá se vão uns quinze anos, me deu a oportunidade de conhecer um gato aqui da vizinhança.
Chamava-se Constantino mas, como vai a valsa, o chamavam de Tino.
No início entrava por uma grade do porão aqui de casa e ficava na porta do atelier me olhando.
Aos poucos foi se aproximando e, com fazem todos os gatos que se prezam, acabou se instalando no local. E, em cartas horas, até em cima de minha mesa.
E mais, ficava por aqui dias e dias sem ir para casa.
Enquanto eu trabalhava sua atração maior era pelos 'drives' do então TK-3000 que, quando acionados faziam um ruido semelhante a um resmungo.
No início ele prestava atenção mas, com algum tempo começou a resmungar como se respondendo. Achei graça e contava para todo o mundo que tinha um gato lá em casa que falava 'drivês'.
Mais tempo foi passando. Entre os gatos que se reuniam no telhado em frente e próximo da janela do atelier, apareceu a Dagmar e, depois de algumas lutas com outros pretendentes, mordidas e orelhas danificadas, ela e o Tino se casaram.
Mas isso é outra estória.
Mas o que mais me surpreendeu foi o que ouvi certa vez quando voltei de duas semanas no barco em Angra.
Um faxineiro que aqui cuidava da casa nas minhas viagens, me dizer, e jurar, que muitas vezes, tarde da noite, ouvia barulhos no atelier e que, quando ia olhar, via o Tino usando o computador.
Claro que não acreditei até que o Celso, sábio amigo poeta, me jurou que uma gata sua, fiel à lírica trovadoresca, escrevia versos dodecassílabos. E falava "papá" pedindo comida.
E eu sei que o Celso não mente!
Não sei se é vero mas dizem que gato-de-botas é aquele que exagera ou conta mentiras.
O VELEIRO NA PAREDE
-“Em 75 comprei um veleiro seu em uma exposição. Tá até hoje lá no escritório de minha casa. Nas horas em que enfrento longas sessões de reclamações, ciúmes, e de inferno conjugal, deixo a moça falar e, como aprendi com os tempos, embarco nesse seu veleiro.
VITRÔ OU VITRAL ?
Nem sei onde li, ouvi ou imaginei, que um homem, antes de morrer tem que escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho e construir uma casa. Sei que há mais versões e não discuto.
Isso acertado, vamos aos fatos.
Livro:Quando trabalhava na California entre 1950 e 1954, ensinando português numa escola de lá, escrevi um, de áudio-visual aplicado, e participei da publicação de outros livros de ensino.
Árvore: Na frente de onde moro hoje há dois "fícus" que plantei ainda em pequenas mudas e que venceram, conseguiram ser esquecidas pela mão-que-mata-o-bicho-e-mata-o-arbusto pelo prazer de matar. - "Mata a largatixa que ela dá cobreiro" diz a nem sempre inteligente cultura popular entre meninos.
Um desses fícus já tem galhos onde as crianças daqui da ladeira se balançam.
E agora, em Junho de 2008, vejo que a árvore está sendo cortada.
No pátio de minha casa há um pé de jaboticaba, pequeno, ainda em tempo de virar "bonsai", que mandei vir de longe. Terá liberdade para crescer o quanto quiser.
Isso faz, como diz o gringo amigo - "two down and two to go." - ficam faltando 'filho' e 'casa'.
Agora vejamos, graças à doce amiga, irretocável companheira e ex-esposa Lourdes, com quem casei em Paris, ao nos dar duas filhas, me completou o 3o. item.
Agora a casa. Esta onde moro é a primeira que construo partindo do nada. Penei por dois anos entre os vários projetos iniciais e o "habite-se" para descobrir agora que a casa não é minha. Eu é que sou dela.
Aliás, depois de uma certa idade carregamos literalmente nas costas tudo o que antes usávamos e do que éramos orgulhosos proprietários.Com a idade passamos de usuários para simples encarregados.
A casa, ainda em projeto, já tinha objetos e outras belezas guardadas no depósito da casa abtiga. Lampiões antigos da Light, pranchas de belissimas madeiras, quadros de colegas, e um vitreaux maravilhoso que, por conta da idade (uns 100 anos?), e de ter sido tirado de uma demolição, precisava de remendos.
À custa de muito perguntar encontrei um vitralista na Tijuca que, com paciência de um anjo, o restaurou.
Colocado na casa entre o hall da escada e uma sala, toda vez que o vejo penso no amigo de muitos anos que me deu esse "presente".
Ele é, para mim, ajudado por não muito mais que uma meia-dúzia de outros amigos, o representante de uma minoria entre os humanos.
Com classe e generosidade, fazem o bem com tanta discreção que a mão esquerda não sabe o que fez a mão direita.
E ainda confirma o dito popular: "Quem tem padrinho não morre pagão".
Olha o vitral aí:
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ENGENHO DO ZÈ MARIS
Em menos de uma semana esse quadro aí ficou pronto e na parede do Zé Tomás.
Origem do Alô ao atender o telefone.
20 de jun. de 2008
desistindo mas insistindo
experimentando 2
- America good place to put chinese restaurant.
12 de jun. de 2008
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Quem sou eu
- carlos
- SILVA COSTA - Pintor, nascido em São Paulo, Brasil, em 1927. Morou e estudou no Rio de Janeiro até 1949 quando viajou para os EEUU. Estudou desenho e pintura no Institute of Mechanics and Tradesmen em Nova Iorque, mudando-se em 1950 para a California, Carmel-by-The-Sea onde trabalhou e estudou desenho e pintura. Trabalhou na Army Language School na vizinha cidade de Monterey e estudou técnicas do retrato com Warshowski. Em 1955 viajou para a Europa onde estudou, na Academie de La Grande Chaumiere, em Paris por alguns meses.