19 de nov. de 2010

O QUE MUDOU OU NÃO . . .

 

O texto abaixo, de autoria do mui querido amigo e recém

falecido Flávio Serrano, já andou por aqui em agosto de

1999 que acho valer a pena ler de novo

Leia e me diga se não merece ser repetido.

--------------------------------------------------------------

De Flavio Serrano :

                                 *

O cruzamento da Rua Visconde de Pirajá com a Avenida

Henrique Dumont já levou, nos idos tempos do início deste

século, o bucólico nome de "Largo do Bar Vinte".

Por que ?

A Visconde de Pirajá era conhecida inicialmente como

"Rua Vinte de Novembro", isso desde 31-10-1917, quando

o decreto 1.165 consolidou num único ato as denominações

de todos os logradouros públicos da cidade do Rio de Janeiro.


O hoje bairro de Ipanema era a chamada "Villa Ipanema",

loteada por José Antonio Moreira Filho, o 2º Barão de Ipanema,

tendo o seu plano inicial sido aprovado pela Prefeitura em

26-4-1894, há 105 anos, portanto.

Sua mulher (a dele, óbvio) era a Dona Luísa Rudge, e havia

nascido naquela data, 20 de novembro. O Barão então colocou

essa data para denominar a principal rua do nascente bairro.

Esse tipo de homenagem ele fez ao longo do loteamento,

galardeando seus parentes e as datas natalícias da família.

A Barão da Torre, por exemplo, foi Vinte e Oito de Agosto,

data de nascimento do próprio Barão de Ipanema (28-8-1830).

Já a Visconde de Pirajá recebeu esse nome em 9-11-1922.

Portanto, apenas cinco anos após ter o nome de Vinte de

Novembro oficializado, viu suas placas serem mudadas.

Verifique que essa triste mania de trocar nomes de ruas

já existe há bem mais de um século. Algum psicanalista,

psiquiatra ou similar talvez possa nos explicar o porque

desta "característica" do homodito sapiens.

Voltando ao Largo do Bar Vinte - ele identificava um café

e bar existente naquele cruzamento, no tempo em que os

bondes da Cia. Ferro-Carril do Jardim Botânico, da linha

de Ipanema, faziam ali seu retorno, pois ainda não existia

a ponte sobre o canal do Jardim de Alá, ligando Ipanema

ao Leblon.

Estamos falando dos anos iniciais deste moribundo século XX.

Esse nome persistiu até 13-7-1955, quando então foi mudado

para "Praça Alcázar de Toledo" (decreto 12.893).

A cidade de Toledo, situada às margens do Rio Tejo, na

Espanha, foi em 711 conquistada pelos árabes e tornou-se

então um importante centro irradiador de prosperidade e

cultura.

O Alcázar de Toledo (al-qaçr = palácio, em árabe) foi construido

no reinado de Carlos I e destruido parcialmente durante a

guerra civil espanhola, sendo considerado como uma das

jóias da arquitetura histórica da Espanha.

Porque mudar um nome histórico perfeitamente identificado

ao local – Largo do Bar Vinte - para um outro, homenageando

um distante palácio no além-mar, é um desses mistérios da

administração pública carioca.

São os mesmos gênios que mudaram há pouco a Avenida

Sernambetiba para Lucio Costa, porque ele foi, entre

outras coisas, o autor do Plano da Barra da Tijuca.

Só que tem que, se você olhar o plano original do Lucio

e o que depois ver o que foi implantado lá, vai ficar sem

entender nada. E homenagem por homenagem, já existia

há muito tempo a Ponte Lúcio Costa,entre Américas e a

Praia, ali perto do Barramares.

Você até pode me convencer que a homenagem ao arquiteto

está em um bom lugar. Mas acho que vai acontecer o mesmo

que temos no Aterro do Flamengo - do Monumento dos

Pracinhas até Botafogo o nome oficial é "Parque Carlos


Lacerda" há mais de dez anos. Entretanto, não há uma

placa siquer, assim indicando. E' como o JB dizia esta

semana em correto editorial : se o novo nome não "pegar"

na boca do povo, não há decreto ou placa que resista.

A Alvorada só virou Ayrton Senna porque evidentemente

era o desejo do povo homenagear o grande campeão.

Mas a Suburbana se tornar Dom Hélder Câmara ?

A Sernambetiba virar Lúcio Costa ? Só na cabeça do prefeito

de Barcelona, digo, Rio.

Lembra das besteiras que o César Maia fez com o nome

do Tom Jobim ?


Veja o caso da Linha Amarela - é oficialmente a Auto-Estrada

Governador Carlos Lacerda. Alguem a chama assim ?

A Linha Vermelha é a Auto-Estrada Presidente João Goulart.

Essa, eu acho que nem o Conde sabe disso.

(E o Jango já é nome da antiga Estrada do Vidigal há

muito tempo).

Os casos desse teor são inúmeros. Tunel Engenheiro André

dos Santos Dias Filho e não Tunel do Pasmado. E muitos,

muitos outros.

Para nos restringirmos ao seu Leblon, quer me explicar

o porque da homenagem ao General Artigas ? José Gervásio

Artigas foi o proclamador da independência do Uruguai

no século XIX, e para manter sua terra livre dos opressores

argentinos, "lutou contra os exércitos lusos-brasileiros que

invadiram a Banda Oriental" - esta é a descrição constante

nos livros, ipsis literis, e portanto assim temos uma

homenagem a um inimigo do Brasil.

Dá para entender ?

Bem, pelo menos, você não encontrará nenhuma rua Hitler

ou Mussolini ou Solano López no guia dos CEPs do Brasil -

mas encontrará uma rua Imperador Hiroito (!) no interior

de São Paulo.

Já o Dom João VI, que deu nova personalidade, novo status

ao Brasil ao vir para cá trazendo a Corte em 1808, é tão

somente nome de uma pequena rua no bairro de Bangu,

perto da estação dos trens.

O vereador Wilson Leite Passos apresentou há tempos um

projeto que impedia, por vinte anos, qualquer mudança

de nome em logradouros públicos.

Não sei se chegou a ser aprovado.

Bem, fechando o assunto, fica uma pergunta : por que

a placa no ex-Largo do Bar Vinte diz agora "Praça Espanha" ?

Sinceramente, não sei. Quando eu tiver um tempinho,

vou dar um pulo no Piranhão, e saber do nome correto lá


nos arquivos do Serviço de Nomenclatura da Secretaria

Municipal de Urbanismo.

Espanha ou Alcázar de Toledo, that's the question.

 

p/t

------------------------------------------------

 

XXXXXXXXX   rio 19 nov 2010  XXXXXXXXXX

Nenhum comentário:

Seguidores

Arquivo do blog

Quem sou eu

Minha foto
SILVA COSTA - Pintor, nascido em São Paulo, Brasil, em 1927. Morou e estudou no Rio de Janeiro até 1949 quando viajou para os EEUU. Estudou desenho e pintura no Institute of Mechanics and Tradesmen em Nova Iorque, mudando-se em 1950 para a California, Carmel-by-The-Sea onde trabalhou e estudou desenho e pintura. Trabalhou na Army Language School na vizinha cidade de Monterey e estudou técnicas do retrato com Warshowski. Em 1955 viajou para a Europa onde estudou, na Academie de La Grande Chaumiere, em Paris por alguns meses.