23 de ago. de 2010

NA PISCINA . . .





Na terceira década do século passado a piscina do Hotel
Copacabana Palace, recém aberta, era bem diferente.
Do lado direito de quem olha para o mar havia um ou dois
cortes de tênis.
A frente para o mar era aberta, e não me lembro se havia
grade ou cerca que a isolasse da rua.
Havia uma piscina para crianças separada da maior
por uma parede com largos furos. Para o susto dos
pais, a meninada cujo corpo esguio permitisse atravessar
os furos, passavam de uma piscina para a outra.
Para isso primeiro passavam os braços e aí, entortando
a cabeça para uma lado (os furos retangulares tinham
mais largura que altura)
usavam as mãos para puxar o
resto do corpo.
Caso entalasse, poderia partir para o além se alguém não
socorresse. Mesmo assim, se puxado pelo braços o corpo
prendesse ou, se puxado pelas pernas não pudesse
posicionar a cabeça de forma a permitir o recuo, seria
trágico.
Essa seção das crianças era rasa e poderia ter uns 4
metros de largura.
Na lado oposto havia um trampolim composto de duas
seções com 3 metros de altura , uma mais larga e central
de 5 metros, e uma de 10 metros que poucos usavam.
Dez metros de altura, para uma criança, tem
verdadeiramente mais de cinqüenta.
Entre os usuários (a turma que freqüentava era quase
sempre a mesma e mais os hóspedes do hotel ) havia
um adulto que, se exibindo para as moças, subia ao de
10 metros, plantava uma bananeira e se jogava lá de cima
num mergulho perfeito.
Ao emergir olhava em volta para ver se tinha sido visto
por todos.
O chefe dos funcionários do hotel que cuidavam da piscina
chama-se Raimundo e era mandão e vivia pondo ordem
naquilo que nós menores arrumávamos.
Lembro bem de ter visto ali artistas de Hollywood quase
sempre em companhia de Jorge Guinle (filho do dono do
hotel) ainda rapaz.
Ele e seus amigos eram a nata da gente-fina que fazia
do Rio de Janeiro o paraíso da boa-vida.
E eu menino, ao ver o que se passava, sentia inveja e,
sem saber bem o que acontecia com eles e as moças
depois do "entardecer", tinha absoluta certeza de que
só podia ser um tremendo oba-oba.
O local era um descanso para meus pais que ali me
deixavam de manhã. Na hora da fome havia uma conta
aberta de onde podia pedir suco-de-laranja e finos
sanduíches de queijo.
Isso quando estava nas férias escolares pois senão era
somente nos sábados e domingos.
Cresci, viajei, freqüentei outras piscinas e quando voltei
me desiludi quando vi que o Morro do Inhangá que havia
depois dos cortes de tênis havia sido arrasado e ali havia
um hotel.
Essa morro era nosso passatempo pois dava para
escalar sem muitos perigos.
A piscina dos menores e o trampolim já não existiam
mais.
Raimundo e os velhos garçons que cuidavam de nós, os
da "infância abandonada" pelos pais na piscina do Copa,
eram outros.
Creio ter ficado um tanto ressentido, não por ter sido
ignorado mas pelo tempo que havia passado.
Embora ser criança abandonada é pura desgraça,
imagino se não há por aí, nesses fins de mundo, uns
tantos abandonados e, ao mesmo tempo, felicíssimos.
E muito, mas por não saber que tudo passa.


XXXXXXXXXXXXXXXX


rio 23 ago 2010


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SILVA COSTA - Pintor, nascido em São Paulo, Brasil, em 1927. Morou e estudou no Rio de Janeiro até 1949 quando viajou para os EEUU. Estudou desenho e pintura no Institute of Mechanics and Tradesmen em Nova Iorque, mudando-se em 1950 para a California, Carmel-by-The-Sea onde trabalhou e estudou desenho e pintura. Trabalhou na Army Language School na vizinha cidade de Monterey e estudou técnicas do retrato com Warshowski. Em 1955 viajou para a Europa onde estudou, na Academie de La Grande Chaumiere, em Paris por alguns meses.